A primeira grande vocação é à vida e esta vocação é universal. Recebemos o dom da vida para vivê-la em abundância. Todos nós somos chamados a viver esta plenitude como filhos e filhas muito amados(as) de Deus.
Toda vocação tem sua origem no olhar amoroso de Jesus, nasce no meio do povo de Deus e é verdadeiro dom da misericórdia divina. “A Igreja é a casa da misericórdia e também a terra onde a vocação germina, cresce e dá fruto”(2016). Somos chamados a fazer parte da missão da Igreja e, após um certo amadurecimento, Ele nos dá uma vocação específica a fim de fazermos um caminho vocacional, ou seja, um caminho de crescimento em seu amor.
O chamado é eminentemente gratuito e é uma iniciativa inteiramente de Deus. Ele considera seriamente cada pessoa e por nos conhecer tão bem e como ninguém, nos olha, nos ama, nos valoriza, nos escolhe e nos chama. Com essa escolha privilegiada e esse chamado, nos tornamos os seus eleitos, por isso, planta em nosso coração o desejo insaciável de estabelecermos uma amizade mais profunda com o Ele e de partilharmos de sua vida íntima.
O Papa emérito Bento XVI, na Conferência episcopal Regional Sul 2 do Brasil, afirmou que “a vida religiosa consagrada nunca poderá faltar nem morrer na Igreja: foi querida pelo próprio Jesus como parcela irremovível da sua Igreja” (05/12/2009). Constatamos isso por meio de sua origem que se deu com o próprio Senhor que escolheu para Si esta forma de vida: casta, pobre e obediente.
Podemos, então, afirmar que a Vida Religiosa Consagrada é fruto do toque delicado e amoroso de Deus na pessoa que se deixou transformar pela alegria de sentir-se imensamente amada por Ele e não mais pode guardar essa experiência somente para si mesma, colocando-se inteiramente a seguir Jesus Cristo mais de perto, levando incessantemente sua Boa Nova a todos.
Cada consagrada(o) é chamada(o), por Jesus Cristo, a segui-lo mais de perto e pela ação do Espírito Santo fazer, como Ele, em tudo, a vontade do Pai. E, é aqui que está a fonte inesgotável da alegria de toda a nossa consagração, como nos afirma Papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelli Gaudium “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria” (2013).
Irmã Madalena Morano vivia e inspirava a todas a respirar essa atmosfera da alegria e afirmava que era preciso ter “a consciência de sermos consagradas para sempre a Jesus, e isso deve bastar para ficarmos sempre alegres” (1901).
A consagração é o fundamento da vida religiosa e o “respiro” do ar puro do Espírito Santo que nos faz todas(os) de Deus para os outros. Por isso, a vida consagrada é hoje, sinal dos bens futuros, pois reflete e revela o rosto de Deus por meio da opção de viver livremente como Jesus Cristo, casto, pobre e obediente, guiadas(os) pelo Espírito Santo, a vivência plena do amor. Portanto, a consagração é o caminho para Deus e seu Reino e exige compromisso e fidelidade a fim de vivermos a promessa que Deus fez com cada um(a) de nós: a vivência da nova e eterna aliança, fundamentada e alicerçada de uma vez por todas na pessoa de Jesus Cristo.
Como partícipe da vida e santidade da Igreja, a vida religiosa consagrada é dom de Deus à sua Igreja, nas diferentes dimensões (global e local) e diversas manifestações carismáticas, puro dom e graça do Espírito. “Há diversidade de carismas, mas um só é o Espírito; há diversidade de ministérios, mas um só é o Senhor; há diversidade de operações, mas um só é Deus que opera tudo em todos” (1Cor12,4-6). Não obstante, cada carisma revela a resposta generosa de seus Fundadores, a partir da experiência do Espírito, frente aos problemas sociais de sua época. Sendo assim, podemos afirmar que os carismas são a materialização da intervenção de Deus que vem salvar seu povo, sobretudo àqueles que mais sofrem.
Como herdeiras do carisma salesiano deixado para nós, por Dom Bosco e Madre Mazzarello, somos responsáveis de viver essa consonância espiritual vivida entre nossos santos fundadores: a consagração total a Deus para a salvação dos jovens, por meio de um projeto de educação cristã integral, próprio do Sistema Preventivo.
O contato com as fontes de nosso carisma, o “mergulho” em Valdocco e em Mornese é, para cada uma de nós, a oportunidade concreta de reavivar a experiência vocacional, pois nos permite reler a nossa vida e a nossa vocação à luz da experiência carismática vivida por nossos santos fundadores.
Ir.Madalena Morano expressava toda a sua alegria quando dizia: “Eu vi Dom Bosco, falei com ele! Estive em Mornese, respirei aquele clima, conheci Madre Mazzarello…”. Para ela, mais do que um simples motivo de alegria, ter estado em contato direto com os fundadores, significava a vivência em seu mais profundo de uma experiência que carregava em seu coração, como um verdadeiro tesouro em vasos de argila.
A nossa missão é única, mas as suas realizações são diversas, tantas quantas as situações e os contextos históricos, geográficos, religiosos e culturais que vivem os jovens. Somente uma análise da realidade e o acompanhamento personalizado nos permite conhecer as necessidades dos nossos jovens.
É preciso estar claro que acompanhar uma pessoa no discernimento vocacional à vida religiosa é acompanhá-la no seguimento de Jesus para participar de sua missão na Igreja. Tal fato nos pede que anunciemos com clareza que toda vida é vocação, compromisso, responsabilidade. Portanto, é importante ajudar as(os) jovens a discernirem, realizarem sua vocação pessoal, seja qual for, com uma atitude de profunda gratuidade.
Um imperativo precisamos ter presente em nossa mente e em nosso coração: propor às(aos) jovens o seguimento radical de Jesus Cristo. Para isso, precisamos acompanhá-las(los) em suas perguntas e interrogações existenciais e educá-las(los) a encontrar o sentido mais profundo de suas vidas.
Na certeza de que em cada jovem existe uma corda que dá acesso ao bem, e de que neles, existe o desejo de descobrir o fascínio, sempre atual, da figura de Jesus, o fascínio de saborear sua presença, de aprender com Ele e de se permitir enamorar por Ele, precisamos propor experiências que os interpelem e os provoquem por Suas palavras e gestos e assim trilhar o caminho da descoberta de uma vida plenamente humana e feliz em gastar-se inteiramente no amor.
A participação dos jovens em nosso XXIII CG nos mostra que a chama da profecia continua acesa e nos aponta que o caminho é estar insieme com os jovens. Recordemos a fala do jovem Jacopo no XXIII CG:
“Para nós, vocês são testemunhas daquela “casa alicerçada sobre a Rocha”, na qual o Amor a Deus se manifesta na comunhão fraterna, sinal tangível que fascina os jovens e os faz sentir-se em casa. Um espírito de família que contagia e que, passo a passo, permite chegar àquela “porta estreita” que leva ao encontro com Jesus. Então reconhecemos que o carisma nos foi dado como presente naqueles gestos cotidianos que acompanharam nosso crescimento. Cada gesto e atenção aos mais pequenos têm, assim, um sentido novo: a alegria verdadeira de ser instrumento de evangelização. Ao lado de vocês, nós nos sentimos protagonistas de uma mesma missão educativa: ser para outros jovens casa que evangeliza” (p.171).
Quanto mais o carisma for vivo em nossas comunidades, quanto mais a alegria resplandecer em nossos olhos e os jovens se sentirem profunda e particularmente amados, mais, as nossas vidas serão testemunhos proféticos e terão força de encantamento e convocação.
Ainda hoje, Deus continua chamando jovens, para viver com Ele e segui-lo mais de perto, consagrando-se totalmente ao seu Reino para educar e evangelizar as juventudes, nas diferentes realidades aonde existe uma Filha de Maria Auxiliadora que mostra, por meio de sua alegria de viver o quanto é bom ser toda de Deus e dos jovens. Não percamos a esperança e não deixemos de viver a profecia!
Continuemos rezando para o Senhor da Messe para que envie boas, perseverantes e santas vocações para o nosso Instituto e que Maria, Mãe e educadora de Jesus, continue a acompanhar e formar o coração de nossas formandas a fim de se tornarem autênticas Filhas de Maria Auxiliadora, todas de Deus para a salvação dos jovens.
Por Celene Couto Rodrigues, noviça