A educação pode ser tema considerado em diferentes áreas do conhecimento. Desde a pedagogia até os mais complexos sistemas científicos e epistemológicos. Queremos neste texto, chamar a atenção para a consideração do tema educação em perspectiva teológico-pastoral.
Partimos do livro do Deuteronômio: “O Senhor teu Deus te educou, como um homem educa seu filho” (Dt 8,5). Fomos todos chamados à vida para que elevemos, cada vez mais, a condição humana em dignidade, por isso, segundo o texto sagrado, Deus envolve o ser humano num permanente projeto educativo.
O Livro da Sabedoria promove uma reflexão afirmando que Deus envia dos céus sua Sabedoria para que “ela assista (o homem) nos trabalhos, ensinando-o o que de fato lhe agrada” (Sb 9, 10). Deus é educador.
A partir dessas motivações, entendemos que a Revelação em Jesus de Nazaré mantém a dinâmica educativa do Deus de Abraão. Parafraseando um versículo do prólogo joanino podemos dizer: “A Pedagogia se fez carne e continuou a nos educar” (Cf. Jo 1, 14a). Jesus é a Pedagogia da Trindade, testemunhando-nos o que o amor divino e misericordioso é constante, pois: “Quem crê em mim fará as obras que eu faço, e inclusive outras maiores.” (Jo 14,12).
No início da sua vida pública encontramos o Divino Educador lançando um sereno e comprometedor convite: “Vinde em meu seguimento” (Mc 1, 17). Seguir algum mestre na perspectiva bíblica é algo muito sério. Implica assumir o projeto de quem se segue. Um educador qualquer não merece e não deve ser seguido.
O Mestre educa por meio da transformação. Ele ganha o coração de Zaqueu, entrando na sua casa; certificando-se que aquela vida será diferente, desse modo, Zaqueu doará o que tem e restituirá quem defraudou; então apresenta a garantia de salvação na sua casa (Cf. Lc 19, 1-10).
Segundo a comunidade do evangelista Mateus, a qual narra a aula magna dentre os discursos em favor do Reino – Mt 5-7 -, o Divino Educador também avalia seus discípulos-educandos. Sua pergunta não se preocupa com conteúdos, antes, é busca por algo essencial: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16, 13). De maneira alguma o Mestre quis causar constrangimento, afirmando as respostas estarem certas ou erradas, porém era necessário que os frequentadores da sua escola respondessem. Depois disso, conforme segue o texto, continua ministrando uma grande conferência; e exatamente na sequência anuncia pela primeira vez a paixão para a qual se encaminha (Cf. Mt 16, 21ss.). O Mestre não pode manter seus discípulos no engano, na ignorância, no equívoco.
Para a Igreja, ao longo dos dois milênios da sua existência, a educação permaneceu objeto de preocupação. Desde os tempos apostólicos até a Idade Média, com o surgimento das universidades; desde a Reforma até o desenvolvimento das muitas correntes de pensamento, são inegáveis os exemplos de empenhos eclesiais entre conquistas e perdas, acertos e descompassos, derrotas e vitórias no seguimento da educação-evangelização.
A V Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida (2007) também abordou o tema da educação em diferentes matizes (social, antropológica, cultural, política, eclesial, …) em vista de chamar a atenção para ações pastorais mais eficazes.
Ao tratar da educação como bem público, Aparecida parte da necessidade de formação integral da pessoa humana a fim de manter sua abertura à transcendência (Aparecida, 481). A partir disso pensamos no quanto se faz importante a atuação dos educadores e educadoras cristãos, tanto na educação formal quanto informal, acompanhando nossas crianças e adolescentes na busca de sentido da vida. Aparecida chama a atenção para a amplitude da ação educativa antropologicamente.
O mundo, as sociedades, as comunidades precisam de pessoas de consciência reta (Aparecida, 482) e para a formação dessas consciências os contributos dos valores cristãos são preciosos. Nossa ação pastoral, independente de organização institucional, pode ser exercida com inteligência e dedicação. Podemos formar redes de educadores cristãos em favor da vida, em busca de cidadania, por um mundo melhor.
Para quebrar os esquemas viciosos da corrupção marcadamente estabelecidos nos diferentes níveis da sociedade, e até mesmo das Igrejas, uma nova educação dependerá de mulheres e homens comprometidos com interesses maiores que os particulares (Aparecida, 507). Nessa mesma esteira, lemos na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, um importante princípio lógico-filosófico: “O todo é mais do que a parte, sendo também mais do que a simples soma delas.”E mais ainda, no mesmo número, uma aplicação prática na atuação pastoral: É necessário mergulhar as raízes na terra fértil e na história do próprio lugar, que é um dom de Deus. Trabalha-se no pequeno, no que está próximo, mas com uma perspectiva mais ampla. Da mesma forma, uma pessoa que conserva a sua peculiaridade pessoal e não esconde a sua identidade, quando se integra cordialmente numa comunidade não se aniquila, mas recebe sempre novos estímulos para o seu próprio desenvolvimento. ” (EG, 235). Nosso interesse primordial deve manter o núcleo único do anúncio do Reino/Reinado de Deus.
É preciso lembrar que o “mundo da educação” (Texto-base CF 1998, 194) deve estar a serviço do Reino. Pessoas dignamente de pé, em pleno exercício da sua Cidadania – com toda a carga de sentido que a palavra carrega – é sonho do Divino Educador. Aqui buscamos uma imagem apresentada no evangelho segundo Marcos: “Jesus, tomando-o pela mão ergueu-o, e ele se levantou.” (Mc 9, 27). Esse é apenas o desfecho da cena, na qual a ação de Jesus complementou a libertação do homem de um mal – epilepsia – que lhe roubava a dignidade. A comunidade de Marcos se preocupa muito em expressar o encontro com Jesus como erguimento (no sentido de levantar), basta conferir as seguintes passagens: 1,31 . 2,9 . 3,3 . 5,41 . 10,49. Levantar está ligado à ressurreição. Estar de pé é a posição do Ressuscitado, segundo as históricas ilustrações dos primeiros cristãos. Quem está de pé tem a oportunidade verdadeiramente mostrar-se livre, afirma Romano Guardini no pequeno livro Os sinais sagrados. Por isso, nenhum agente educativo cristão escapa do ministério de “levantar pessoas”.
Os pontos de partida para a atividade de uma Pastoral da Educação, tais como a erradicação do analfabetismo, são tão importantes quanto a garantia de vagas nas universidades para pessoas nas mais variadas situações etno-econômicas. Por isso perguntamos:
– Qual é o meu/seu papel na constituição dos processos educativos na sociedade e das/nas nossas Igrejas?
– Quais atitudes a favor da Educação demonstram que fomos/somos educandos na escola do Mestre Jesus?
– Você já se percebeu membro de Pastoral da Educação?
– Quais ações podemos desenvolver na busca de interação entre nossas escolas?
– Nossas comunidades dispõem de pessoas capacitadas para contribuir mais na formação dos nossos jovens em vista do melhor preparo profissional ou para a entrada na vida universitária?
– Como podemos organizar eventos e subsídios para que os professores, membros das nossas comunidades, sintam-se acompanhados e estimulados pela fé cristã?
Tem sentido pensar Pastoral da Educação para o aumento e a consolidação do ecumenismo e do diálogo inter-religioso?
Educadores e educadoras cristãos, somos interpelados por Jesus mediante as inúmeras possibilidades favoráveis ao mundo contemporâneo. Mundo melhor, sociedades melhores são expressões de proximidade do Reino, no qual a solidariedade e a paz são conselheiras permanentes, presididas pela caridade.
Nosso Deus é educador, nossas comunidades sejam igualmente educadoras!
Eraclides Pimenta, salesiano, estudante de teologia.