Conexão…qual o significado dessa palavra? Se procurarmos no dicionário Aurélio, teremos a seguinte definição “Estado de coisas ligadas; Enlace ou vínculo entre pessoas ou entidades”.
O Apego Seguro, como por definição na Psicologia, se dá quando desenvolvemos a conexão e o vínculo com a certeza de que seremos correspondidos e de que poderemos contar com nossas fontes de vínculo confiáveis.
Ele é desenvolvido desde intra-útero, quando começa a conexão mãe-filho e segue por toda a vida, mas a infância e a adolescência, principalmente a infância, consistem em períodos cruciais para a formação do Apego de forma segura e capaz de criar futuramente cidadãos do bem e da paz.
A partir do momento em que o bebê está sendo gerado e seu cérebro começa a se desenvolver, com toda a capacidade necessária para conseguir estabelecer vínculos, criar conexões e desenvolver a visão mental dele mesmo e dos outros, somos todos co-responsáveis por esse processo.
Todos nós que nos relacionamos com ele seremos co-responsáveis. E a partir daí, seremos responsáveis por tudo que ele vier a fazer, nessa inter-relação em que vivemos.
O que eu faço afeta diretamente o outro e o que o outro faz, me afeta também. Na definição de Conexão, temos um “estado de coisas ligadas”, então, diante dessa definição, tudo e todos estão ligados e conectados, ainda que a gente não queira admitir ou prefira olhar somente para a nossa realidade, a nossa família e para nossos filhos.
E quando recebemos chocados a notícia de que dois adolescentes, entraram em uma escola e atiraram em outros adolescentes e acabaram por dar fim à própria vida e atônitos, pensamos: “O que está acontecendo com o mundo? Porque essas coisas tem acontecido?”, somos forçados a olhar para o todo, para os outros, para além de nós mesmos e de nossos filhos.
Escutei essas perguntas acima, várias vezes durante esses dias, e confesso que também me fiz as mesmas perguntas, mas aí mudei para: “Onde está minha responsabilidade perante tudo isso? ”, “O que eu poderia estar fazendo que não estou?” e as respostas começaram a aparecer.
Estamos tão distantes uns dos outros, fechados em nosso próprio mundo, em nossas casas, que estão fechadas em condomínios. Saímos fechados em nossos carros, nos fechamos na tecnologia e nos fechamos também muitas vezes, dentro dos nossos próprios lares.
Não conseguimos criar conexões e estabelecer vínculos de apego seguro com nossos próprios filhos que estão apenas alguns metros distantes de nós, mas esperamos que depois, nossos filhos saíam e consigam desenvolver a empatia, o respeito e estabelecer conexões com outras pessoas.
Reagimos às situações que acontecem dentro de nossa própria casa, muitas vezes, de forma agressiva e violenta, com gritos e ameaças e esperamos que nossos filhos saíam e consigam resolver as situações de suas vidas de forma pacífica e amigável.
A Psicologia Infantil e a Neurociência já nos explicam, desde há muito tempo, que os filhos irão reproduzir o que aprenderam com os adultos de confiança que os cercam, os adultos que se tornarão referência na consolidação do Apego Seguro, através de conexões de afeto, de segurança, de cuidado.
Então, como podemos exigir algo que eles não aprenderam? Como podemos esperar que cérebros ainda em desenvolvimento resolvam situações que nem mesmo nós, os adultos, com cérebros já desenvolvidos, ainda não conseguimos?
Rudolf Dreikurs, um psiquiatra e educador vienense, costumava colocar que “AS CRIANÇAS PRECISAM DE ENCORAJAMENTO ASSIM COMO AS PLANTAS PRECISAM DE ÁGUA”.
Mas diante de tudo isso, alguns questionamentos começam a surgir: como encorajar meus filhos? Como desenvolver esse Apego Seguro? Como criar conexões sólidas baseadas no amor e na paz?
A Disciplina Positiva através de Rudolf Dreikurs, um dos psiquiatras de referência da mesma, também nos ensina que qualquer ser humano para conseguir se desenvolver de forma segura e com comportamentos e objetivos acertados, precisa de apenas duas necessidades supridas (além das básicas, claro): Necessidade de se sentir pertencente a algo e de ser aceito.
Quando isso não ocorre de forma natural, a tendência é a de que através de algumas formas equivocadas, todo ser humano venha a buscar por isso.
Por isso, se queremos que nossos filhos encontrem a aceitação e o pertencimento dentro da nossa relação com eles, nosso papel como pai, mãe e até mesmo como educadores, pois dentro do ambiente escolar, as crianças e os adolescentes também tendem a buscar por tudo isso, devemos dar a eles o entendimento através de nossas atitudes de que podem contar com a gente, que eles fazem parte da nossa vida, que são aceitos como são. Mas como fazer isso?
Parece complexo, mas na verdade é algo muito simples. Algumas dicas podem ajudar:
– Escutando ativamente sem julgamentos, pacientemente e de forma pacífica, para depois conduzir para melhores decisões e escolhas;
– Dedicando tempo de qualidade a estar com eles, de fato, deixando a tecnologia durante esse tempo;
– Resolvendo conflitos e comportamentos inadequados com conexão, para depois acontecer a correção. Por conexão, entendam abraços, carinhos, trocas de olhares diretos, colo, acolhimento e por correção, nunca e em hipótese alguma, entendam agressões e desrespeito;
– Respeito acima de tudo em nossas relações, dentro do ambiente em que vivemos, com os outros, em todos os locais, até mesmo quando necessário a correção, que ela seja de forma respeitosa e pacífica;
– Tratando os nossos filhos da forma como gostaríamos de ser tratados;
– Tratando os outros da forma como gostaríamos que nossos filhos também os tratassem;
– Ajudando nossos filhos a encontrar o que eles tem de melhor dentro deles e a acreditarem em si, nas suas capacidades e potencialidades;
– E em muitas situações, simplesmente deixando com que entendam que estamos ali, para caso precisem de nós.
Portanto, quando consigo criar uma conexão sólida com meus filhos e um apego seguro, sem exageros, construo relações sólidas e de segurança com o mundo, com os outros, porque no fundo, é isso que acontece. Estamos todos conectados e interligados e o que aconteceu no Colégio, há algum tempo atrás, também é de nossa responsabilidade e nos afeta, mesmo que distante de nós, pois como já dizia Abraham Lincoln, há anos atrás, em uma frase muito conhecida dele:
“A mão que balança o berço é a mão que governa o mundo”
Eu acrescentaria a mão que balança o berço, que conduz por todos os caminhos, que os ensina a ler e a escrever, que os fazem sentir-se aceitos e pertencentes a algo, que lhes transmite valores, que lhes auxilia a construir seu caráter.
Que possamos ser cada um de nós, “a mão que balança o berço”, cada um à sua forma, nas mais diversas fontes de trabalho e de relação com a infância, a adolescência e a educação, pois através de nossa contribuição, estaremos deixando para o mundo, as futuras gerações que irão conduzi-lo.