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Dar a vida em defesa da caridade fraterna: Irmã Carmen Moreno e Irmã Amparo Carbonell

Os nomes das três FMA: Carmen Xammar, Carmen Moreno e Amparo Carbonell estavam na lista das que partiam de Espanha no navio italiano Princesa Joana que no dia 7 de agosto de 1936, no início da guerra civil, partia de Barcelona rumo ao porto de Génova. As superioras tinham decidido que todas as FMA saíssem de Espanha para se porem a salvo. No entanto, as três FMA atrás referidas não saíram.

A primeira Irmã, Carmen Xammar (54), que acabara de ser operada, não estava ainda em condições de viajar. A segunda, Ir. Carmen Moreno (51 anos), Vigária Inspetorial, na Casa “S. Doroteia”, de Barcelona, decidiu ficar com ela, e a terceira, a irmã Amparo Carbonell (43 anos), da mesma comunidade, ofereceu-se para lhe fazer companhia. Ficaram juntas até serem presas (a 1 de setembro de 1936), depois, a irmã doente foi libertada e as outras duas irmãs foram mortas a 6 de setembro de 1936. No dia 11 de março de 2001, com 32 mártires salesianos, foram declaradas beatas pelo Papa S. João Paulo II.

O título da nossa reflexão recorda a morte, ponto-chave da existência, para o qual elas se tinham preparado desde a juventude. A sua vida doada como sinal da caridade fraterna é como o fruto maduro de uma árvore sólida de virtudes cristãs, cultivadas na família e no Instituto das FMA. No que diz respeito à família, quero realçar um aspeto particular das nossas mártires: a relação com as suas irmãs, vivida no ambiente familiar e, no que diz respeito à vida no Instituto, o caminho de santidade vivido nas tarefas desempenhadas no serviço de autoridade e a outra como mulher trabalhadora. Precisamente nesses serviços, ambas manifestaram a sua preferência por viver a caridade fraterna.

Irmã Carmen Moreno nasceu no dia 24 de agosto de 1885 em Villamartín (Espanha, província de Cádiz) sendo a quarta filha de agricultores abastados. Perdeu o pai aos 7 anos de idade e transferiu-se com a família para a casa dos avós em Utrera, perto de Sevilha. A pouca distância da sua nova habitação estavam os Salesianos que administravam uma grande obra educativa. Neles e, particularmente, em Don Ernesto Oberti, a mãe, Fabiana e os seus cinco filhos órfãos, encontraram um pai que os ajudou e confortou. O contacto com o ambiente salesiano tornou-os sensíveis à juventude e ajudou-os a descobrir a beleza da vida cristã e o valor da consagração a Deus.

Carmen e a irmã mais velha, Paz, deixaram-se atrair pela vida das FMA, conhecidas em Sevilha, durante os anos vividos no colégio, e decidiram entrar no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Paz entrou primeiro e emitiu os votos em Sevilha no dia 28 de agosto de 1903. Carmen seguiu-a e fez a sua consagração em Ecija, cinco anos depois, no dia 22 de outubro de 1908. A mãe manifestou uma certa resistência à decisão de Carmen, mas, por fim, ganhou força para a deixar ir.  Um ano após a primeira profissão de Carmen, Paz consagrou-se ao Senhor para sempre (a 5 de setembro de 1909) e, na mesma cidade, Carmen emitiu a Profissão perpétua no dia 20 de setembro de 1914. Não sabemos pormenores sobre a sua relação, mas podemos imaginar com quanto afeto Paz terá acompanhado Carmen. Sabe-se, a partir dos dados biográficos, que ambas eram mulheres fortes e decididas que deixaram uma marca do seu espírito nas pessoas que as conheceram.

Em 1920 a mãe Fabiana adoeceu gravemente. As duas FMA alternaram-se junto dela, velando dia e noite.  Ela percebeu que o seu “sim” à separação dolorosa das suas queridas filhas tinha agradado ao Senhor. No verão daquele mesmo ano a mãe faleceu.

A obediência religiosa chamou as irmãs Moreno a trabalhar nas casas de Sevilha, Valverde del Camino, Jeréz de la Frontera, embora em tempos e com responsabilidades diferentes. Carmen iniciou como professora e assistente do oratório, depois foi nomeada diretora (de 1924 em Valverde,[1] de 1936 em Jeréz) e trabalhou também em Barcelona Sarriá, a onde voltou, no verão de 1936 como vigária inspetorial. Paz, em 1926 iniciou o serviço diretivo na casa de Jeréz e continuou em Ecija (orfanato) e depois em Torrent (Valência).

A revolução surpreendeu-as nessas últimas casas. Paz foi presa em 29 de julho de 1936 em Torrent, permaneceu na prisão por vários meses “durante os quais ela fez muito bem entre as pessoas, todas mulheres e algumas religiosas, que estavam com ela […]. Foi admirada e respeitada até mesmo pelos carcereiros”. Saiu sã e salva depois de cinco meses, graças à intercessão de Madre Mazzarello, então Venerável, a quem ela se tinha confiado.[2]

Carmen ficou na prisão por apenas cinco dias (de 1 a 6 de setembro de 1936) e foi fuzilada no hipódromo de Barcelona. Não sabemos quando e como é que Paz recebeu a notícia da sua morte; provavelmente veio a saber dos factos só depois de ser libertada.

Irmã Amparo Carbonell nasceu a 9 de outubro de 1893 em Alboraya (Espanha, província de Valência), de uma família pobre de agricultores. No batismo, os seus pais deram-lhe o nome de Maria dos Desamparados, confiando-a à Virgem dos desconsolados. Aquele nome longo foi imediatamente encurtado, de acordo com o uso atual: a criança passou a chamar-se Amparo.  A Virgem dos desconsolados fará dela uma consolação.[3] A menina cresceu com seus irmãos e irmãs, humilde e obediente, embora o seu carácter não fosse espontaneamente inclinado à docilidade. Depressa passou a colaborar no trabalho agrícola, experimentou o peso do sacrifício e o valor do pão ganho com o seu suor. Amparo era generosa, capaz de perdoar, aberta a tudo o que a levava ao conhecimento do Senhor. Demonstrava ter um coração generoso e sensível e com uma grande sede de Deus.

Conheceu as FMA em Valência, para onde se transferiu por motivos de trabalho e lá frequentou o colégio. A oração fê-la gradualmente descobrir a voz do Senhor que a chamava. Teve de superar muitas dificuldades por parte da família e do Instituto para ser admitida ao postulantado. Quem impedia o seu caminho vocacional era Carmen, a irmã mais velha. Mas antes de morrer, ela arrependeu-se dessa atitude e pediu-lhe perdão.

Por parte do Instituto, havia uma certa perplexidade em aceitar Carmen pela sua pouca cultura e também pela idade, 28 anos, que, naquela altura, era já um pouco adiantada para se candidatar, no entanto, foi aceite. Amparo iniciou o período de formação em Barcelona Sarriá a 31 de janeiro de 1921. Distinguia-se pela sua modéstia, simplicidade e generosa dedicação a todo o tipo de trabalho. Era favorecida pelo seu físico robusto e resistente ao cansaço. Fez a sua primeira profissão a 5 de agosto de 1923, mas, pouco depois, a sua saúde falhou: foi atingida por uma doença que a enfraqueceu e tornou mais débil. O que a doença não conseguiu eliminar foi a sua determinação de não se poupar a nada. Continuou a destacar-se pela sua dedicação serena, humilde e generosa na limpeza dos ambientes e no cuidado do jardim e da horta.

A 5 de agosto de 1929, foi admitida à profissão perpétua e, quase de seguida, chamada a despedir-se do pai que estava a morrer. Regressou à comunidade, mas, em 1931, forçada pelos acontecimentos políticos, teve de voltar para os seus, como faziam muitas FMA naquela altura.  Em casa, passou por várias ocasiões de grande sofrimento. Não sabemos quem lho proporcionou, mas pensamos que pudesse ter sido a irmã mais velha, já que ela se tinha mostrado arrependida apenas no fim da vida. Amparo cobriu tudo com o silêncio e mergulhou em oração. Em 1932, inseriu-se na comunidade de Torrent (perto de Valência) e, no outono do mesmo ano, regressou ao colégio de Barcelona Sarriá.

Passava os seus dias no escondimento: nenhum apostolado direto, apenas plantas, flores, animais da pequena propriedade; oração intensa, amorosa fidelidade a tudo aquilo que lhe era pedido.  As irmãs notavam nela um profundo desejo de pobreza. Era muito difícil conseguir que ela aceitasse uma peça nova de vestuário. A sua generosidade fazia com que estivesse sempre pronta para ajudar. Permaneceu em Sarriá, até que a guerra civil forçou todas as FMA a deixar a casa.  Também ela podia ter ido para o Centro do Instituto, na Itália, mas, no momento oportuno, intuiu que, com a sua experiência, poderia ser útil junto da irmã doente e sugeriu a proposta.

A superiora estava ocupada a organizar a viagem para salvar as irmãs, ver dos documentos e objetos importantes, e a Vigária assumiu toda a responsabilidade que lhe fora confiada recentemente, responsabilizando-se também pela irmã que tinha de ficar. Aceitou boamente a disponibilidade da irmã Amparo, que desde jovem conhecia todos os recantos do colégio de Barcelona Sarriá, considerando que seria oportuna e útil a sua presença.

A caridade fraterna é a chave para compreender a doação generosa da Irmã Carmen (28 anos de vida religiosa) e da Irmã Amparo (13 anos de vida religiosa) que, no momento da necessidade, souberam unir a necessidade do serviço de autoridade com a experiência prática do lugar para imitar Jesus Cristo na oferta da vida, para se ajudarem umas às outras. A apoiá-las nessa atitude havia, além da fé, o bom entendimento relacional entre elas, que as fortaleceu e encorajou mesmo na prova vivida e oferecida em comunhão com o Senhor Jesus.

 

 

Bibliografia

Collino Maria, Il colore rosso dell’amore: Carmen Moreno e Amparo Carbonell, martiri di Cristo, Leumann (Torino), Elledici 2001.

Secco Michelina, Suor Carbonell Amparo, in Facciamo memoria. Cenni biografici delle FMA defunte nel 1936, Roma, Istituto FMA 1993, 60-62.

Secco Michelina, Suor Moreno Carmen, in ivi 158-161.

Secco Michelina, Suor Moreno Benítez Paz, in Facciamo memoria. Cenni biografici delle FMA defunte nel 1949, Roma, Istituto FMA 1997, 274-277.

[1] Em Valverde, viveu com a irmã Eusébia Palomino, agora Beata, durante nove anos.

[2] Ivi, 275-276. A relação da graça recebida foi escrita pela irmã Paz Moreno em novembro de 1939.

[3] Collino Maria, A cor vermelha do amor: Carmen Moreno e Amparo Carbonell, mártires de Cristo, Leumann (To), Elledici 2001, 9.

 

Fonte: www.infonline.cgfmanet.org

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